quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Bom Natal

Para si, o melhor Natal de sempre. E a mais terna esperança de sempre.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A propósito dos comentários

Acabei de responder aos comentários feitos aqui no texto em baixo. Já não era sem tempo. A resposta ao comentário do José Coimbra poderia ter sido dada aqui nesta página mais visível. Mas dei-a no sítio dos comentários, e lá ficará. Até talvez seja bom, pois, não sendo tão visível lá, assim não fico tão exposto a outros comentários críticos. Não levem a sério. A discordância é boa. Obriga-nos a estar atentos. E a pensar.
Vou ver se amanhã consigo comentar os comentários deixados em Nas tuas, nas minhas, nas vossas, que mora logo um pouco mais abaixo. Devo isso às pessoas que se deram ao trabalho de comentar, principalmente aos meus alunos. Já não o são. Mas eu considerá-los-ei sempre como tal. Com muito orgulho e gosto.
Aliás, era um hábito meu responder a todos os comentários e a todos os mails. Aos mails, agora é quase impossível, mas irei tentando. Em relação aos comentários, retomarei esse "mau" hábito.
A todos agradeço a paciência de virem aqui.

domingo, 7 de dezembro de 2008

O Sr. Dr. Mário Nogueira, o Sr. Dr. Jorge Pedreira e o jogo do faz-de-conta

Quando, na sexta-feira última, vi e ouvi o Sr. Dr. Mário Nogueira, quase de negro, a anunciar solene a suspensão de algumas acções públicas de protesto contra a política educativa do governo do Senhor Dr.- Engº. José Sócrates, executada pela sempre servil e comatosa Senhora Drª. Ministra da Educação, eu tive uma imediata reacção emotiva que não sei bem explicar, embora saiba muito bem por que é que a tive.
Aquele negro solene soava quase a vitória. Mas essa quase vitória, quase anunciada, não suscitou em mim nem apoio, nem rejeição, nem pouco mais ou menos. Ora vejam lá! O que aquele negro solene provocou em mim foi uma reacção estranha, despropositada mesmo, sabe-se lá porquê: desenterrou em mim fantasmas agoirentos que me falavam de entendimentos com formas de memorandos. Que despropósito injusto! Mandei-os logo calar. E foi, então, que me veio à memória aquele poema de Jorge de Sena - Epístola a Álvaro Salema. E publiquei-o logo aqui, não fosse vir-me à ideia uma coisa ainda mais estranha. Não sei bem por que me lembrei desse texto, mas sei bem por que o publiquei. E teve que ser logo na hora, porque se adivinhava o que se seguiu.
Umas pouquíssimas horas depois, veio o Sr. Dr. Jorge Pedreira , muito lesto e quase meigo, anunciar que não, que não era bem assim, que tudo continuava na mesma, que alguém entendera mal.
Ora, o Sr. Dr. Nogueira não gostou nada daquilo que disse o Sr. Dr. Jorge Pedreira. E com toda a razão, diga-se. E vai daí, então, o Sr. Dr. Mário Nogueira aparece de imediato a ameaçar guerra, começando por ameaçar suspender a suspensão - a tal que, solene e negro, horas antes anunciara.
Até parece que o Sr. Dr. Mário Nogueira anda muito distraído, não entende bem as coisas, engana-se muitas vezes, ou deixa-se enganar. Parece, mas não é verdade. Isso poderia lá ser?
Mas neste jogo de sombras se cansam os professores. E nesta floresta de enganos se valida o "faz-de-conta". E se o "faz-de-conta" pode ser bom para a luta partidária, para os professores nunca o será. Nem os professores o podem querer. Porquê? Porque este "faz-de-conta" é uma armadilha vestida de ingenuidade, de complacência, de conivência, de conveniência, de pura hipocrisia, ou da mistura disto tudo; e exige longos e comprometedores compassos de espera.
Se entendido assim - e eu acho que é mesmo assim -, o jogo do "faz-de-conta", os professores não o podem querer. Ele poderá ser um ganho de tempo muito útil nas estratégias partidárias para a disputa eleitoral, mas para os professores será sempre um dramático atraso no tão pouco tempo que têm para começar a juntar os cacos da sua dignidade ofendida, mas nunca vencida.

sábado, 6 de dezembro de 2008

É triste e é cómico

Epístola a Álvaro Salema

É triste e é cómico, mas é preciso dizer-se:
quem mais recusa e nega é quem mais aceita,
e não aceita mais aquele que menos recusa.
Porque de infindo amor nos recusamos
a que ele seja esse infamar-se o ser
que as coisas e os humanos nunca são inteiras.
A conivência torpe com a humanidade,
no que ela tem de vil, de ignóbil, de mesquinho,
a conivência com este espectáculo hediondo
de um mundo de traição, perfídia, malignidade reles,
e sobretudo a estupidez triunfante, não é possível.
Seja qual fôr a causa, a nobre causa, a santa causa,
não é possível: nada que seja nobre,
nada que seja santo, pode resistir
a tão porcas vizinhanças. Mas,
se recusarmos essas complacências,
chamam-nos traidores aqueles que a traição cega
na fúria de que as causas justificam os fins.
Antes trair tudo isso. Se uma coisa, um homem, uma pátria,
precisam da mentira e do contágio sujo
para salvar-se - que há que salvar neles?
Que a nossa vida seja nossa: ninguém mais
a vive senão nós. Que a nossa voz
seja alheia: outros que falem por conta própria
ou por conta do que acham próprio. E,
se nos disserem que nos não entendem,
respondamos que a honra não se entende
onde o sentido dela se perdeu. E que,
quer queiram quer não queiram, ela existe
e há, desde o princípio do mundo, homens com o encargo
de velar por ela. Não serão felizes, não serão
amados, não serão sobretudo criaturas fáceis,
que obedeçam às ordens de quem não aceitaram que os mandasse.
Cada qual que mande nos fiéis da sua igreja;
e que eles sejam obedientemente fiéis.
Mas que se não diga que não pertence ao mundo
quem, porque lhe pertence, não aceita ordens
das sociedades de socorros mútuos
a que não pertence. Traição é isso de fingir-se alguém
o guardião só de uma verdade. As verdades
são prostitutas notórias que depravam
os seus guardiões. E, contra essas verdades tão ricas,
e tão poderosas de seus fiéis, só temos
esta dignidade que nos querem tirar -
talvez porque seja mesmo o de que sentem falta.

Jorge de Sena, in Dedicácias