segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Professorzecos de imbecis putecos

O texto que se segue é a transcrição de grande parte de uma notícia, publicada no jornal Público de hoje, sexta-feira, 25 de Janeiro de 2008, ao fundo da página 8, e assinada pela jornalista Leonete Botelho. Mantém-se o título. Suprimi-lhe o primeiro e o último parágrafos, pois não se referem especificamente à educação.
Contestação à "arrogância" do Governo cresce no PS
...
A crítica é recorrente e prende-se com a acusação de falta de diálogo entre ministros e o grupo parlamentar sobre políticas difíceis e de grande impacto público. Mas ontem, subiu de tom, com os ministros da educação e da saúde a serem acusados de falta de espírito democrático e de arrogância pela forma como lidam com os deputados e os cidadãos.Dois dos protagonistas foram Luís Fagundes Duarte e Teresa Portugal, ambos da comissão parlamentar de educação, que na véspera tinha reunido com a ministra Maria de Lurdes Rodrigues. A reunião prendia-se com a análise de dois decretos-leis que, como instrumento legislativo do Governo, não passaram pelo Parlamento: o da avaliação dos professores (publicado) e o da gestão das escolas (em discussão pública).Os deputados quiseram, ainda assim, analisar os dois, na medida em que têm recebido muitas contribuições e queixas de cidadãos e professores. Mas a reunião não terá corrido bem e acabou com acusações mútuas: a equipa do ministério considerou que os deputados estavam a dar voz a "professorzecos", enquanto estes lembraram os governantes de que só estavam no Governo porque existia a maioria parlamentar."
OBSERVAÇÕES DESNECESSÁRIAS:
1 - No PS já há contestação, o que é bom, mesmo quando feita para inglês ver; mas há quem conteste com seriedade.
2 -A contestação cresce no sector da educação e da saúde, dois sectores fundamentais, e onde os erros que estão a ser cometidos se pagam muito caro, e por muito tempo.
3 - O conteúdo do decreto-lei sobre a avaliação dos professores não passou pelo Parlamento; é uma questão fundamental para o ensino que queremos; não é só o que aparenta; por essa avaliação passa a dignidade ou não da função docente; por essa avaliação passa a qualidade ou não do ensino que queremos; por essa avaliação passa a seriedade ou não daquilo que queremos para os nossos mais novos; interessa o professor que sabe e ensina a pescar, ou o professor que – incompetente, preguiçoso, manhoso, irresponsável, medroso, humilhado, cansado -, garante, logo no início do ano, o sucesso estatístico que lhe estão a impor?
4 - Esta gentinha que nos governa já nem sequer mostra pingo de vergonha, não hesitando em desrespeitar os próprios deputados que lhe sustentam o cargo.
5 - Esta gentinha é tão sem-vergonha, é tão medíocre, é tão prepotente, é tão insignificante, é tão fútil, é tão banal, que, ao deparar-se com qualquer contrariedade - qual seja apenas uma discussão com os deputados do seu próprio partido -, perde as estribeiras e salta-lhes da boca linguagem própria de quem é imbecil, chamando professorzecos , a quem ainda vai aguentando o barco, que essa gentinha vil quer afundar num mar da estupidez , que é o mar de que eles gostam.
6 - Esta gentinha tem complexos: sabe que há ainda muitos professores a sério; que gostam de o ser; que o sabem ser; que gostam de ensinar; que gostam dos alunos e, porque gostam, não os querem drogar com futilidades de entretenimento e de fazer de conta que; que não se deixam humilhar; que vão resistir porque sabem bem conjugar o verbo ser, o verbo aprender, o verbo ensinar, o verbo sentir, o verbo amar, o verbo sonhar.
7 - Esta gentinha é um aglomerado de pessoazecas que detestam estes professores, que são a maioria, embora muitos sintam sua mágoa em silêncio sofrido; estas pessoazecas não tiveram professores destes ou, se os tiveram, nunca os entenderam, e ficaram ressentidas por reconhecerem que nunca seriam dignas como eles; estas pessoazecas devem ter tido só professorzecos, que também os há; talvez seja por isso que estas pessoazecas são, e hão-de ser sempre um bando de imbecis putecos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O que é preciso é ser gente

A "águia real" teve a amabilidade de me deixar um comentário seu em Fantoches psicóticos, a que acrescenta, muito a propósito, um poema de Ana Hatherly. Eu lhe agradeço, e aqui os deixo na porta da entrada, para que os vejam logo ao chegarem.

"Caro Tempo, pois claro que não se pode desistir, nem desapressar o passo... nem baixar os braços, nem assobiar para o lado...
Façamos um voo a rasar a cabeça desses rufias, biquemo-lhes os miolos, a ver se de alguma forma os fazemos olhar para cima, e não de cima, como quem condescende alguma coisa por caridade.
Trago-lhe aqui umas palavras, já antigas, mas sempre modernas... que isto da modernidade é, parece-me, inTemporal... inTemporal mas dentro do seu devido Tempo. Já que o Tempo nos manda aguentar, no tempo, e resistir também... que não se pode desistir nem no tempo, nem do Tempo,"

O que é preciso é...
... arreganhar o dente
O que é preciso é gente,
gente com dente,
gente que tenha dente,
que mostre o dente.
Gente que seja decente,
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente.
Gente com mente,
com sã mente
que sinta que não mente,
que sinta o dente são e a mente.
Gente que enterre o dente,
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente.
O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente...

Ana Hatherly(Porto, 1929)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Honra e glória ao guru Crates

Vamos lá, então, a coisas mais sérias e simpáticas, a ver se você me perdoa, e esquece os Fantoches psicóticos – texto e gato, pesadelos que pode ver aqui em baixo. Se teve a dupla sorte de não ver o gato e de não ler o texto, não cometa agora o erro: feche os olhos e não leia. Vamos, então, à simpatia de outros assuntos mais leves, mais leves e até mais cómodos, tudo em louvor ao Crates.

1. Hoje é terça-feira e, como sabem, eu gosto muito destas “feiras” nossas, que são as “feiras” da semana. Eu acho até que devíamos passar a dizer também “sábado-feira e “domingo-feira”, para as feiras serem mais. Seria mesmo uma glória que outras línguas não têm. Mas isso é outra história, que já aflorei aqui, e a ela voltarei, em dia de mais sossego, e se isso agradar ao Crates.

2. Hoje é dia de Lua Cheia, e toda a gente gosta dela, quando pára e a contempla, dando-se a si mesmo uns minutos de descanso e devaneio. A lua tem esse condão, que dizem que é romântico, de nos pôr a imaginar mundos outros, que tecemos com belezas e com sonhos, com desejos e com esperanças. Até há mesmo quem diga que foi ela que nos ensinou a ver estrelas, que nos ensinou a ver céu, que nos ensinou a amar.
Não tenho bem a certeza, mas estou em crer que sim. É que a lua, muitas vezes, deu-me aquela certeza que podia dar a mão a quem comigo estava; e quem comigo estava, me dava a mão também; e que, nesse dar as mãos, se dava muito mais que a mão que um ao outro dávamos. Mas tudo isso acontecia, por causa da sapiência do Crates.

3. A Lua Cheia, neste dia, promete trovões e ventos, e até chuva abundante. Dir-me-ão que não acreditam, até porque tem estado sol. Mas vejam os vendavais, e as chuvas fustigadas, e o som das trovoadas a afundarem cotações ali no mundo das bolsas.
Isto é uma contrariedade para o nosso guru atleta, mais conhecido por Crates, que anda anunciar certezas de que tudo está bem, e que só quem é estúpido é que não vê que está mesmo. Mas é contrariedade pequena, que amanhã, logo bem pela manhã, ele já tem uma frase feita para dizer que é inocente. E os seus comentadores comensais vão arranjar mil argumentos, dizendo que não é culpa dele, que ele até é vítima, e que no fundo até é um bem, e que só os palermas é que não percebem a bondade de seus argumentos.
Não me venham, pois dizer, que eu estou a brincar, e que não domino bem a ciência que é a do adivinhar.
E, já agora, vão até uma janela, até uma esplanada, até um descampado, e façam favor de olhar para aquela linda lua, e digam-me lá se ela nos dá ou não paz e sonho. Mas tudo por influência do Cates

4. Há quem diga, não sei bem quem, que - além de terça-feira, e dia de Lua Cheia -, este dia é também Dia Mundial da Liberdade. Vejam que nome bonito. Mesmo que seja mentira. Mas não digam nada a ninguém, que gostar da liberdade, nos dias que hoje correm, pode muito bem ser considerado um apoio ao terrorismo.
E, principalmente, não digam nada ao senhor Bush, se não ele ainda destrói mais um país todo inteiro, matando crianças terroristas, matando velhos terroristas, matando velhas terroristas, generalizando a anarquia, a miséria e a fome, e até mil doenças, para defender a liberdade. Ele há lá maior cowboy que ele, na luta pela liberdade dos seus, dele e dos seus amigos, interesses tão vitais, como sejam a liberdade de ter tudo o que bem quiserem?
Ele só hesite um pouco naqueles breves segundo em que não tem a certeza de ter a concordância do Crates.

5. E, para terminar bem, e dada a minha santidade, cabe-me ainda lembrar que hoje é dia de S. Vicente, um mártir, como convém a todo o santo que se preze. Viveu no século III e IV. Um santo já muito antigo, mas que foi muito popular, como o são todos os santos, como ainda há pouco eu disse, a propósito do S. Gonçalo. Foi popular em França, na Espanha e em Portugal. (Aqui devem fazer uma pausa e gritarem pausadamente, num ritmo sempre heróico: Por-tu-gal! Por-tu-gal! Por-tu-gal!; e depois repetir três vezes).
Que fosse popular em Portugal, compreende-se muito bem, que é terra de muitos espantos. Mas a principal razão talvez se deva ao facto de ele ser considerado o patrono dos fabricantes do vinho.
É um santo curioso. Apareceu o seu corpo em muitos lugares. Só eu conheço três sítios onde está sepultado o corpo do santo autêntico. E nenhum deles é Lisboa.
Mas se houver necessidade de apurar a verdade, é só perguntar ao Crates. Ele é bem senhor para ter habilitação para o caso.

Nota Final:Vêem como sou bonzinho, e falei de coisas mansas, e não insinuei nada, e até disse bem do Crates?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Grandes dilemas da vida

Estou como um velho professor que eu tive, e do qual e com o qual nós tínhamos muitas histórias. Mas delas não vou contar. Só que era muito competente, mas era muito sovina.
Ora acontece que, anos passados, ele passou a dar aulas cá numa certa cidade, e dava sempre boleia, paga a preço de bilhete igual ao da camioneta, um amigo dos meus que tinha sido como eu um dos seus melhores alunos. Ora a meio da viagem, aparecia outro parceiro a que também dava boleia, cobrando-lhe o preço do bilhete oficial. Só que havia um problema: esse outro viajante chegava sempre atrasado ao ponto de encontro marcado. E todos os santos dias, ao aproximar-se do tal sítio, esse meu professor dizia a esse meu amigo que já ia no carro com ele:
- O gajo não vai estar la! E isso é um dilema: se não paro e o deixo, ele não me paga o bilhete; se paro e espero por ele, gasto gasolina no arranque.
Eu estou quase como ele: se respondo aos comentários, não escrevo nada aqui; e se escrevo algo aqui, não respondo aos comentários.
O dilema dele era o dinheiro; o meu dilema é o tempo.
Ora digam-me lá agora, se a vida não é dura.
Até breve.
E um abraço.
:-)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A malícia do dragão

Qual dragão chamejante, veio aqui o Botafogo, atirando-se ao S. Gonçalo - a pila e o aquilo. Mas deixemo-nos de rodeios: ele não se atirou ao texto - ele atirou-se foi ao Santo, à pila e ao aquilo.
Numa linguagem directa, de dragão que nada teme, ele disse que eu tinha afinidades com o Santo - coisa que é evidente -, e que eu era pessoa de mui boas intenções - o que é evidente também; mas depois acrescentou que eu vim para aqui com a passarinha, e que depois vim com o aquilo que faz falta à passarinha, e que a passarinha agradecia - e isto já não é assim tão claro.
Que tenho afinidades com o Santo, isso é indiscutível. Como ele também sou santo, ainda não certificado; como ele corro os povoados, andando de vale em monte, ainda de gente bravia. Mas há essa outra parte em que me distingo dele: não sou nem casamenteiro, nem sequer um folgazão, que isso pode levar à tentação do pecar. E eu isso só posso fazer depois de ter garantida a compra do certificado que me ateste a santidade. Ora, sendo eu um santo, sem selo de garantia, tenho que ser sempre exemplo de pessoa bem intencionada, mesmo tendo de fingir, mesmo tendo de enganar.
Com o Botafogo a coisa é outra. Ele é um ser de malícia ardente, que me acusa de ter vindo até aqui, trazendo uma passarinha que não é bem passarinha. Ora, isso não é verdade. Eu só trouxe uma avezinha, uma avezinha de verdade, uma avezinha inocente; daquelas que até voam, e que até fazem voar - pelo menos é o que dizem. Só por especulação mística é que me pus a imaginar se essa delicada coisinha era passarinho ou passarinha. E só esse imaginar me deu logo a certeza que ela era passarinha.
Se tivesse ficado por aí, a malícia do Botafogo, ainda vá que não vá. Mas não contente com isso, ele vem depois dizer que eu trouxe à passarinha aquilo que ela queria, e que ela tanto o queria, que ele até insinuou que ela me agradeceria. Ora, isso não pode ser, que eu nem tão pouco sei o que quer a passarinha, embora tenha na ideia coisa que ela poderia querer, se já fosse primavera. Será que ela ia querer? E até agradecer? E que forma vestiria esse seu agradecer? Mas isto é, está mais que visto, um perguntar inocente, que nem é para responder.
Quem para aqui trouxe a passarinha, e aquilo que ela quer - e seja lá isso o for -, e o seu agradecer - seja lá o que ele for -, foi simplesmente o Botafogo, que ele é malícia de fogo, e eu inocência pura, guardada em fingimento, até que me mandem um fax, dizendo que já sou santo. Por isso terá de ser ele, esse senhor Botafogo a contar aos curiosos, o que é isso da passarinha, e o que é aquilo que ela quer, e como é que o quer, e como é que ela agradece.
Não me atribuam a mim malícias que eu não tenho. E, mesmo que as tivesse, eu diria sempre que não.
Eu limitei-me a dizer aquilo que o povo diz ao S. Gonçalo maroto, fingindo-se distraído: que se vire para o outro lado, que lhe podem ver a coisa; e que arranje maneira de tirar a quem precise as teias de aranha da coisa. O povo é muito simples. Não tem malícia nenhuma. E o Botafogo também não.
Claro que ele viu a passarinha, o aquilo que ela queria, e como é que o queria, e como o agradecia, mas que mal é que isso tem? E quem é que nunca não? São fraquezas de dragão, a que só um santo como eu tem força para dizer não, mas sempre com os dedos cruzados, escondidos atrás das costas, para que o não seja sim.
Viva a malícia do S. Gonçalo e do povo, que a tinham, mas já não , pois a atiraram toda para as costas dum dragão.
E viva o Botafogo, carregadinho de culpas!
E viva a minha inocência!
E viva a minha santidade!
E viva você também, mas só se concordar comigo.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Líbano *

O Líbano faz-me evocar o meu colega e amigo Anwar Namani, que me deu a conhecer pela peimeira vez O Profeta, do poeta filósofo Kahlil Gibran, a que já tive oportunidade de referir-me em www.tempobreve.blogspot.com, em 31 de Julho de 2007, e em www.setepelessetesaias.blogspot.com, de 30 de Julho de 2007. Ao Anwar perdi-lhe o rastro. Estará ainda vivo, depois do seu país ter sido tantas vezes tão massacrado? O livro, esse ainda o tenho e releio-o.
Parece que o Líbano nasceu num lugar maldito. Mas não. Maldita é a ambição e o orgulho tribal que fazem dos homens bestas canibais, que nada detém, ante o desejo de posse e de mando, nos jogos estratégicos que mais lhes convêm. A humanidade? Essa que se. Se bem que o não digam. O que eles dizem é que fazem tudo para bem do povo, da democracia, e da segurança. Da segurança dos seus interesses, claro, que os interesses dos outros não contam, e são até de desconfiar. Ora viva a guerra! Ora vivam canhões! Ora viva a malta tão esforçada na defesa heróica dos interesses vitais de alguns países, de alguns senhores, muito democratas, muito ocidentais!
Os outros, esses que se amanhem; e que se aninhem humilhados e famintos, vendo os filhos mirrar e morrer dentro de campos cercados de modernos arames farpados, e de muros modernos de separação higiénica, e de canhões abencoaços pelo deus do ocidente. E os seus iguais, do lado de lá, até agradecem.
Eu gosto do Líbano. Eu detesto a mentira e a hipocrisia.
Onde paras tu, Anwar Namani?
Um abraço.
...
* Este texto é um comentário que eu escrevi no blogue cegueiralusa, do José Carreira, e que ele teve a amabilidade de publicar na página principal desse seu blogue no dia 11, sexta-feira; façam uma visita a esse blogue; vale a pena.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

S. Gonçalo de Amarante - a pila e o aquilo

Os nomes dos dias da nossa semana viraram quase todos feiras, perdendo toda a magia dos nomes que já tiveram, o que foi um empobrecimento. Mas isto é outra história de que se pode falar numa qualquer outra altura.
Hoje estamos numa quinta-feira, e é o dia 10 de Janeiro, dia em que se celebra a memória de S. Gonçalo de Amarante. Bem decerto que foi ele aquele primeiro artista que originou a tradição de que Amarante é terra de artistas, tradição bem confirmada, uns sete séculos depois, por Teixeira de Pascoaes, Agustina de Bessa-Luís e Amadeu de Sousa Cardoso. Mas interessa-nos é o Gonçalo.
A história não nos diz que Gonçalo tivesse sido mesmo artista. Mas eu acho que ele o foi no seu viajar vagabundo, e na arte de evangelizar as terras de Entre Douro e Minho – coisa que não deve ter sido fácil, sendo gente tão bravia, e apegada a ritos pagãos, quase todos tão bonitos. Mas no que eu mais me baseio para o considerar artista é no facto de ele ser, ainda hoje, elemento relevante da identidade cultural de Amarante: de facto, ele não é só Gonçalo, mas Gonçalo de Amarante, unindo os dois nomes num; e também não é só Santo, mas santo casamenteiro, louvando o amor humano; e, ainda, porque sendo Santo, é um santo folgazão, louvando a alegria na terra.
E foram estas facetas, de Santo casamenteiro e de Santo folgazão, as que mais se arreigaram na memória popular. Não sei bem se ele era assim, ou se assim o povo o criou. Mas a verdade é que ainda agora o povo honra essas facetas, nos seus cantares mais brejeiros do folclore popular.
Vou dar apenas dois exemplos, que toda a gente conhece, para mostrar que também sei. Mas acrescentar aos exemplos umas notas explicativas, só por causa das más línguas, e também das mentes perversas. Ora vejam lá então:

S. Gonçalo de Amarante
Que estais virado para a Vila
Vira-te para o outro lado
Que te podem ver a grila. (1)

S. Gonçalo de Amarante
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha (2)
Naquilo (3) que vós sabeis.


......
Notas desnecessárias, apenas para mentes perversas:
1 – A palavra original é pila, palavra que eu censurei, substituindo-a por grila; é que a palavra pila é uma ambiguidade, de geometria variável, e eu temi que as tais mentes depravadas pegassem nessa ambiguidade e lhe ampliassem a geometria até pontos que eu nem sei, nem quero imaginar sequer; sei também que corro riscos tendo pegado na grila, que é a fêmea do grilo; é que, como puderam ver em textos anteriores, eu falei na passarinha, a fêmea do passarinho, e viram que as mentes perversas viram lá uma outra coisa, que não a casta esposa do humilde passarinho.

2 – Teias de aranha são simplesmente teias de aranha; é uma questão de higiene; é uma questão de asseio; é uma questão de limpeza; bastaria uma vassoura; ou será que não há vassoura?; mesmo assim ouso dizer, para clarificação definitiva, que aquelas Teias de aranha não são armadilha de caça, ou sedução oferecida.

3 – O aquilo que está no Naquilo é algo de incompreensível; trata-se de um pronome que não se refere a nenhum nome; por isso não se percebe; mas eu não me admiraria muito, se as tais mentes perversas vissem naquele aquilo a tal outra passarinha que viram em textos anteriores; seria uma aberração, mas eu já disse que não; mas mesmo assim tudo é possível.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

As feiras da obediência servil

Hoje é quarta-feira, um nome que não é nome que se preze para dia de semana. Mas está bem. Os portugueses são de "feiras" e de obediências servis. Nem sempre foram assim. E nem sempre são assim. Mas nesta coisa das "feiras" foram reverentes, obedientes e servis. Foi ordem que veio de fora. E como ainda hoje, o que vem de fora é bom, toca de ser o primeiro a obedecer ao estrangeiro.
Têm os portugueses a mania de imitar, qual macaquinhos treinados em diversões de arraial. E como são pouco cultos - a não ser em Inglês Técnico, feito por fax diligente -, imitam o que menos presta, ou o que já passou de moda. Daí ser tanta a asneira, em muitas das coisas que imitam.
É antiga esta mania de imitar tudo o que vem de fora, com ares de modernidade. E como argumento definitivo, a que nem podemos ripostar, difundem na televisão, que lá fora já é assim. E nós temos que ouvir, que ouvir e que calar, ou que comer e calar, seja lá a lavagem que for.
Mas por que raio é que não imitam aquilo que no estrangeiro é bom?
Ora tudo isto veio por causa das nossas feiras, que são cinco por semana. Valeu-nos o sábado judeu, e o dia do senhor, se não gramávamos com as "feiras" a santa semana inteira.
E se eu lhe desejar agora que dê um espirro tremendo, que faça tremer paredes e acordar os vizinhos?
Fique bem e até logo. E se der um espirro avise-me. Mas repare que disse espirro, e não outra coisa qualquer.
:-)

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Desejos merecidos

Hoje acordei disposto à verdade, e vou-me deixar de igualitarismos falsos. Por isso desejo um bom dia para mim, agora e sempre; um bom dia para si, que está agora aqui; a continuação de um bom dia para si, se durante o dia se lembrar de mim, e voltar aqui; um bom dia para aqueles, mais retardados que, por causa do sono, ainda cá não vieram, mas ainda vão vir; um bom dia para aqueles que há poucos dias por aqui passaram, mas hoje não vão vir - e por isso desejo que lhes nasçam piolhos dos mais vulgares; um bom dia para aqueles que há muito tempo não vêm aqui - e por isso desejo que lhes nasçam piolhos e pulgas dos mais atrevidos; um bom dia para aqueles que nunca cá vieram - e por isso desejo que lhes nasçam carraças.
Às Saias desejo que, por questões de arejos, lhes nasçam buracos. E às Peles desejo que lhes nasçam tufos de pêlos, bem abonados, onde pastem chatos.
É assim.
:-)

sábado, 5 de janeiro de 2008

Transparente como àgua turva

Você, que é de bom gosto, não vai perder o seu tempo lendo o texto difamante que as Peles ontem escreveram. Elas são exactamente aquilo que dizem que não: invejosas, maledicentes, malcriadas, mentirosas, queixinhas e lamentosas. É isso que as faz falar, insultando a verdade.
É quase um assassínio moral aquilo que elas disseram sobre o texto aqui em baixo, que se chama "Resistir". Primeiro só insinuaram, mas, como são linguareiras, acabaram por afirmar ser eu o autor do tal texto, fingindo-me de outra pessoa, para poder chamar por mim, como se eu fizesse falta. Isso é que foi o mais grave. Por isso tenho que explicar tudo bem explicadinho, pois não podem restar dúvidas, mesmo que improváveis.
A coisa passou-se assim, de forma abreviada: eu telefonei ao macaco; o macaco atendeu; eu pedi-lhe que voltasse; e ele pediu-me que eu também; o meu pedido foi dito; o dele acabou escrito ali no texto em baixo; e eu para já não sei dizer como é que aquilo aconteceu; mas, quando souber, eu digo.
Está tudo esclarecido? O texto que eu escrevi a pedir-me que voltasse, não fui eu, foi o macaco.
Transparente como água turva!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Resistir

Volta, Tempo, volta! Não te percas mais. Acorda e vem. Vem de qualquer maneira, mas vem. Não te quedes mais por distâncias tais. Alevanta-te e vem. Escreve não importa o quê. Mas vem. Não vês que não posso acompanhar-te sempre nos rodopios de voo e mergulho em que me foges?
Lembras-te daquela ameaça de texto sobre "Arte"? Lembras-te daquela anunciada insurreição dos computadores? Lembras-te do macaco que deixaste pendurado não se sabe bem onde? Lembras-te daquela ideia da "rosa no fundo do mar"? Lembras-te daqueles granitos que, beijando-se, esperam duas palavrinhas tuas? Lembras-te daquela vez que?
Volta, Tempo, volta! Com textos anunciados ou não, líricos ou não, histórias ou não, fotografias ou não, bonitos ou não, irónicos ou não, sarcásticos ou não, alegóricos ou não, tristes ou não, com fel ou com mel. Mas volta! Breve!
Não. Não sejas tonto! Não são outros que pedem. Sou eu: com a minha voz, e com a voz dos outros.
Volta, Tempo, volta! Breve! Eu preciso de ti, agora e aqui, que a coragem agora é resistir.
Lembras-te? Claro que lembras!
Volta, Tempo, volta! Breve!